O último cosmonauta da USSR

Quando eu era pequena queria ser astronauta. Por um tempo me enamorei com a Lua, em uma relação sincera e fiel.

Em 1992 meu pai foi para Angola, trabalhar na equipe de propaganda que participou das primeiras eleições depois da guerra civil. Minha mãe estava grávida da minha irmã.

Os olhos dele me hipnotizam. Na verdade ele inteiro me hipnotiza. Meu olhar escapa dos olhos dele e desliza até a boca entreaberta. Ele está inspirando. Está puxando ar para os pulmões. Ar da Terra. Da terra.

Ando tendo pesadelos. Não sei onde é minha casa. As vezes estou em casas que sei que não são minhas, e sinto que preciso ir para minha própria casa, mas não é possível. Outras vezes sonho que estou em casa, na minha casa, mas não a sinto.

Ando tendo pesadelos. Não sei quem é meu amor. As vezes estou com alguém, mas sei que não é quem eu amo. Outras vezes estou com que eu amo, mas não sei quem essa pessoa é.

Imagina. Imagina só. Voltar para Terra e o mapa estar diferente. Os nomes diferentes. Onde você nasceu, cresceu e dedicou a vida não só deixou de existir como faliu, falhou, se rompeu.

Imagina só ver a Terra de longe. Deve ser tão linda.

De alguma forma compartilho o choque com ele. Um não-lugar, um não pertencimento, desterrados. De alguma forma invejo ele. Queria também que essa ficção que vivo se desfizesse. Essa mentira chamada fronteira que conforma o grito, a revolta, o basta.

Os labios semicerrados. Um homem impotente, sendo carregado por outros homens que agora servem a um outro monstro. Um herói de quem?

Um devaneio. A loucura. A União Soviética acabou. E quanto a nós?

Imagem: Vi no Reddit. Amor a primeira vista. Na legenda estava escrito assim: Sergei Krikalev emerges out of a Soyuz capsule ate the city of Arkalyk, Kazakhstan after spending time on the Mir Space Station March 25 1992. Men went to space as a Soviet Cosmonaut, watched the Sovit Union break up in space, return back to Earth to a differet contry as teh Last USSR person.