Na passagem subterrânea na Lapa, a da estação da linha Rubi. Segunda
feira de manhã, a vida já amilhão. Cigarro um real, chocolate um real,
meia cinco por dez, o caos indo e vindo, ignorando solenemente a minha
dificuldade de me manter acordada. Empurro meu corpo pra frente, é muito
cedo. Gosto da passagem cheia de gente, fica sinistra quando está
vazia, com dois coxas plantados no lugar do alho 10. Ficam lá, olhando o
celular, rindo sei lá do que. Inúteis. Mas de segunda de manhã é lógico
que eles não vão estar na passagem, daí é ó o creme de massagem, ó o
dixavador, ó o fone tem de 5 tem de 10. E ela sentada no chão, em cima
de uma lona preta, vendendo tênis de criança. Outro dia ela estava
cantando, acompanhada por uma outra mulher a uns 3 ou 4 vendedores de
distância. As duas cantavam em uma língua que nunca ouvi e a música era
bonita, mas daquelas que trás uma lembrança dolorida. Hoje ela não
cantava. Estava sentada, com as pernas esticadas e o olhar distante,
talvez assim como eu brigando para se manter acordada, mas certamente sonhando
com outros lugares. Talvez visitando algum lugar em África. De manhã é
difícil cantar. Apesar dos braços cruzados, consegui ler o que estava
escrito em sua camiseta: "cry a river, build a city".
(28 de agosto de 2019)
Imagem: mandala quadrada feita por app a partir de uma folha de Espada de São Jorge. Força.
Caralho mano que zika esse texto o modo que e contado os detalhes a situação achei incrível parabéns pra autora continuarei senguindo semanalmente
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